Há 8 nos que moro nas montanhas. A princípio descobri-me daltônica nos tons de
verde, eram tantos! E eu não os via assim como não via pássaros, tampouco os
ouvia. E os erres interiorioranos me apontavam as folhas e diziam seus nomes.
Também não os compreendia. Aos poucos,como quem vê um estereograma pela
primeira vez, as formas , as folhas, os nomes, foram surgindo perante meus
olhos e ouvidos estarrecidos. Estava feita a ligação.
Diariamente caminho nessas terras altas. Se embaixo, minha
casa azul-“ porque é bom viver no azul, amor”- surge entre as folhagens
lembrando-me um canto das bandeirantes “
no alto da montanha há um lindo chalé” . Se estou no alto, ela aparece aconchegada
pelas montanhas que a abraçam com um carinho comovente.
Há 8 anos que passo pelas mesmas trilhas e não há um dia
sequer que uma novidade não surja!É a folha que caiu, é a flor que nasceu, é
buraco de tatu, é o condomínio dos cupins que recebeu buraco de cobra cascavel.
E as nuvens entram pela janela da casa azul para namorarem o vapor do
cafezinho recém passado no pano.
Então, fotografo. Talvez para aprisionar um trecho de beleza
e aprender com ela a querer mais. Dificilmente os registros serão revistos mais
que dez vezes . São tantos! Olha! Um
tucano voando entre as grades de uma gaiola de nuvem! Clico aflita para
engaiolar esse momento. Mas aí, um
beija-flor passa raspando pelos meus ouvidos, ah! são dois! E o coração
acelera, a respiração em suspenso para eles não fugirem, dedos nervosos tiram a
tampa da objetiva.. e, voyeur, testemunho uma cena íntima, tão rápida que me
deixa na dúvida se realmente existiu, mas meu coração sabe do privilégio de
estar presente no milagre da criação.
Fotografar torna-se um pouco mais difícil com os olhos
embaçados da emoção, enxugo com a ponta da camiseta 5 números acima do meu e
continuo nessa caça ao tesouro que nunca me frustra pois moro num caleidoscópio
de maravilhas, por todo lado é beleza em movimento.
Tenho preferências: a silhueta, o diminuto e o através. São eles que me chamam atenção e click! Mais
uma foto. Na amplidão da paisagem se
minha pequenez se evidencia, torno-me cúmplice de tudo, seja pedra, aranha ,
flor, folha rasgada ou passarinho. Entendemo-nos bem, então. Estamos em iguais
condições como a formiguinha e a neve, sempre um maior que o outro e assim tudo
é igual.
E eles, por sua vez, parecem os biscoitos da Alice com o convite
escrito : “fotografe-me”! Obedeço. Às
vezes , minha vista cansada sente que colheu um minuto muito especial de cor e
forma. E às vezes ela está certa. Outras, ampliado pela tela do
computador, ó decepção! O passarinho
voou! A borboleta fechou as asas! O vento levou, a vista falhou. Mas não zango.Amanhã
tem mais.
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